terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

ACORDES DIFERENTES NA SUIÇA BRASILEIRA

Se o Carnaval é a festa da descontração e da loucura, como alguém pode querer se divertir estando, digamos, "exilado". Então como não pude curtir como queria, a saída mais plausível, viável e de bom gosto foi optar pelo Festival de Jazz de Garanhuns. Estivemos lá com Gaudêncio Vilela, Herbert Leal e Ragnar Leal nos deliciando com música de qualidade. Garanhuns continua linda, mas o friozinho, ainda, não é aquele de julho e agosto. No sábado conferimos o vozeirão de Karl Dixon(dos EUA)e Léo Gandelman(RJ). Este ano os organizadores montaram dois ambientes abertos, ao ar livre, na Praça Guadalajara, decorados com antúlios e flores naturais de encher os olhos. Vários restaurantes instalaram "sucursais" em volta das mesas e o menu estava ótimo. Tábuas de frios, chocolate e vinho de qualidade fizeram toda a diferença. Gostei muito da perfomance de Karl Dixon: ele cantou clássicos como "What a Wonderful World"(famosa na voz de Louis Armstrong)e "Georgia on My Mind"(de Ray Charles) e mostrou boa desenvoltura no palco. Mas quem roubou a cena foi a Blues Mascavo, de Maceió, que botou para ferver e agitou os roqueiros que não sabem que o rock não é filho bastardo do blues. Formada por Wagner Sampaio(guitarra e voz), Peter Beresford(guitarra e voz), Alessandro Aru(baixo) e Adriano Lima(bateria) - a banda incendiou a Praça Guadalajara. A Blues Mascavo é tão boa que Gaudêncio Vilela quer trazê-la de todo jeito para Arcoverde. Na verdade, a banda é tão espetacular que é melhor nem elogiar - só ouvindo mesmo. Depois de tudo, eles foram dar uma canja no Bar do Massilon(point dos descolados de Garanhuns). Fomos todos para lá e encontramos "Os Valvulados" fazendo um som excelente cantando "Jorge Maravilha"("você não gosta de mim, mas sua filha gosta"), conhecida na voz de Jorge Ben Jor, mas que na verdade é autoria de Leonel Paiva e Juninho de Adelaide(este último pseudônimo de Chico Buarque nos tempos da Ditadura). Pena que o espaço de Massilon é pequeno. De lá fomos para o Escritório, que na verdade é um restaurante(perto do Parque Euclides Dourado), já todo decorado para a Copa do Mundo. Quando pensei que já tinha visto tudo me deparo com os caras da The Bluz(de Caruaru). E não é que a terra de Vitalino tem vida intelingente. A Bluz é supercompetente e inspiradora. Formada por Jonathan Richard(guitarra e voz), Rogaciano Paz(baixo), Thássio(bateria) e Paulo Jr. - eles não deixaram a peteca cair. Gaudêncio foi logo reverenciado pelo band-leader e o cansaço da noite, simplesmente, sumiu. Perdí a conta de quantos clássicos do blues a Bluz tocou. À essa altura, abdiquei o uísque e peguei uma água com gás. Antes de irmos embora, apareceu por lá Tico Santa Cruz(do Detonautas) e o "papa" do blues tupiniquim Celso Blues Boy. Aí o bicho pegou mesmo - com todos no palco desfiando músicas e mais músicas para deleite dos nossos ouvidos. De uma coisa eu sei: preciso urgentemente dos discos da Blues Mascavo e da The Bluz. Foi uma noite maravilhosa, dessa que a gente não esquece. Até porque música boa não tem nacionalidade. Como diz meu amigo Farias, se a música fala ao coração e ao espírito - então ela já valeu a pena, sendo ianque ou sertaneja de raiz. Por fim, vamos, de novo, pedir "piedade para essa gente careta e covarde" que não sabe o valor de uma flor de plástico. Afinal, elas não morrem jamais......

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

ENTRE OS BOIS E O LIRISMO

Mais uma vez, por força, digamos, de "questões operacionais", não brincarei o Carnaval como queria. Fico "p" da vida quando escuto aqueles frevos antigos ou vejo imagens do Recife Antigo e não posso fazer nada. A sensação de impotência é muito grande para quem ama o Carnaval como eu amo. Lembro que, por várias vezes, passei o Carnaval em Tamandaré, a convite do amigo Joaquim Santos - o Joaca(gente da boa cepa dos Inocêncios de Ibimirim). Só que eu nasci em Poço da Cruz. Infelizmente nunca mais ví Joaca. Lembro que adorava ficar em algumas piscinas naturais, sem pressa de voltar para casa para almoçar. Dava um chochilo e no meio da tarde começávamos uma "meio-rave" com muito rock e frevo de bloco. Até que eu esquecia, por um tempo, a febre do Carnaval. Mas quando ligava a TV e via flashs da Praça do Arsenal, do Timbu Coroado e do Galo ficava me perguntando o que eu estava fazendo em Tamandaré. Num misto de remorso e raiva, restava engolir os desfiles da Sapucaí pela Globo. Pádua(irmão de Joaquim) morria de rir e incentivava que eu desligasse a TV para batermos pernas pela pracinha de Tamandaré. Na verdade, nem os anfitriões(a quem até hoje agradeço a hospitalidade e que se talvez possa ter parecido que exagerei no comportamento - paciência - de mim ou se gosta de vez ou se odeia para sempre), nem Tamandaré têm culpa alguma. Até porque, o que vai fazer um folião convicto num local que tem carnaval mais que não é aquele "carnaval de verdade"? Feito este adendo, este ano farei parte do jurado, no domingo, aqui em Arcoverde, do Carnaval Folia dos Bois, a convite do secretário de Turismo, Albérico Pacheco. Confesso que torço que essa modalidade de entretenimento carnavaleesco "cole" de vez, tanto nos corações dos arcoverdenses, quanto nos espaços da mídia regional(coisa que já está acontecendo). Em tempo: sábado vou a Pesqueira ver o lirismo dos blocos, mas ainda estou na dúvida porque posso também optar em curtir o Festival de Jazz de Garanhuns(será?). O Carnaval que me aguarde: um dia em volto para gandaia de vez. Com direito a só voltar depois da "Quarta Feira Ingrata". Aos que vão brincar, que brinquem como gente grande e com responsabilidade. Feliz momo à todos!!!!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

NA BURRA DE NOVO

Estivemos, mais uma vez, conferindo o "Bloco da Burra", do Madeira de Lei, na rua dos Mascates(em Arcoverde). Na oitava edição, a "Burra" está revigorada, irreverente(apesar do apoio oficial de alguns órgãos). Dessa vez o homenageado foi o saudoso Chico Pereira - o Chico do Foto. Benjamim disse que nunca esqueceu a bondade e o sorriso de Chico. O boneco gigante de Chico passou entre os foliões logo depois das apresentações de Tenório e Noé Lira. Também me lembro de Chico - tomamos uns e outras algumas vezes com Elísio(o Mago) e ele sempre tinha uma boa história para contar. Este ano a festa estava mais organizada com menos mesas; a compra de bebidas era feita através de tickets e barracas tinham iguarias como vatapá e acarajé com direito à camarão. Depois que a "Burra" saiu pelas ruas do São Geraldo e da Boa Vista, uma orquestra de frevo colocou todo mundo para frevar. Ninguém nem se lembrava daqueles hits chatos de Ivete Sangalo e Cláudinha Leite. Aliás, por ser uma ilha de execlência da boa música(incluindo MPB, rock e reggae) é que o Madeira de Lei ainda é um dos bares mais visitados por turistas, jornalistas, arquitetos, artistas plásticos, atores e operários da cultura em geral. Eu mesmo, nos tempos de solteiro(e de rebeldia tardia), cansei de "fechar" o Madeira depois das 4 da madruga. Lula, o garçom-mor, diz que Benjamin não pensa só no lucro. "Já chegou gente aqui com o som do carro na maior altura tocando aquelas duplas sertanejas horrorosas, nós atendemos todos muito bem, mas explicamos que o Madeira de Lei não pode permitir esse gênero justamente aqui, se assim fizéssemos estaríamos afungentado a grande maioria dos clientes que vêm aqui apenas para curtir música de qualidade e jogar conversa fora", explica Lula. A postura é plenamente compreensível porque nos bares da vida de Arcoverde o que mais têm é DVD de qualidade técnica sofrível e muito barulho por nada. Os donos desses bares deviam entender que as pessoas quando saem de casa é para desopilar e desenfastiar e não ficar de olhos grudados na TV. Assim como o bar de Valmilson(também no São Geraldo e que tem uma coleção de LPs de fazer inveja), Benjamim só quer que as pessoas beberiquem sua cervejinha em paz. Que as moças lindas tomem seu caldinho de feijão numa boa. Se quiserem zuada, que vão atrás do trio elétrico ou sejam mais um no bloco dos iguais. Nós que detestamos o óbvio ululante preferimos a simplicidade do momento. Valeu Bejamin, para o ano estaremos lá, de novo, puxando o rabo da "Burra".