terça-feira, 2 de março de 2010

VIVA ZAPATA!!

Caetano Veloso tem uma música que diz: "mamãe eu quero ir a Cuba, quero ver a vida lá". Engraçado, a ilha de Fidel sempre me atraiu pelo romantismo da Revolução. Achei arretado quando Fidel, Che Guevara e companhia botaram para correr Fulgêncio Batista, que era um lacaio dos Estados Unidos. Mas isso é só história e a história não absolverá Fidel Castro. As intenções do advogado barbudo têm lá seu lado positivo: o comunismo era um sopro de liberdade numa ilha cheia de corrupção e prostituição. Mas pouca gente sabe, mas desde do começo - Fidel foi um tirano. Nos meses que se seguiram à entrada dos revoltosos em Havana, muitos dos que pensavem diferente de Fidel foram simplesmente executados. Fidel comparecia pessoalmente aos julgamentos coletivos que eram feitos num ginásio de esportes. Che Guevara, por exemplo, tanto fez pela Revolução, mas Fidel invejava o carisma superior do comandante argentino. Por isso ofereceu à Guevara a chefia do Banco Nacional de Cuba(uma espécie de Banco Central)para que o guerrilheiro ficasse atrás de um birô. Depois jogou Guevara na pasta da Agricultura. Mas Guevara pouco entendia de dinheiro e de agricultura. Quando Guevara disse a Fidel que iria para a Bolívia continuar a Revolução, o cubano adorou. Fidel sabia que, sem apoio dele ou da Rússia, Guevara nunca mais voltaria à Cuba. As moiçolas de Havana não mais suspirariam por aquele homem de olhos enigmáticos. Os garotos de Havana não mais se espelhariam no modelo libertário de Guevara. Era tudo que o invejoso Fidel queria. Guevara combateu no Congo e deu tudo errado. Depois chegou na Bolívia e tentou implantar a guerrilha na selva, mas foi traído pelo partido comunista daquele país e entregue covardemente à agentes da CIA, infiltrados em solo boliviano. Fidel bem que podia ter enviado à Bolívia um comando para salvar Che, mas não o fez. Fidel praticamente deixou Guevara morrer à míngua. Muita gente não aceita essa teoria. Tudo bem, mas há quem garanta que se Fidel movesse uma palha que fosse teria salvo Guevara. Bem o tempo passou. Agora morre, em virtude de uma greve de fome, o pedreiro e dissidente Orlando Zapata Tamayo. No mesmo dia, o presidente Lula visita Fidel e tira foto ao lado do presidente Raul Castro - o irmãozinho querido de Fidel. O pior: Lula não diz uma só palavra quanto ao desrespeito dois direitos humanos em Cuba. Fidel, por sua vez, decrépito e senil, diz que nunca torturou, nem nunca mandou matar um só opositor. Acredite se quiser. Certo filósofo disse que "o tempo é o senhor da razão". Nesse caso é mesmo: Guevara vive nos corações de centenas de jovens pelo mundo, enquanto Fidel já morreu e esqueceram de enterrar. Em tempo: os sites dizem que existem 200 presos políticos em Cuba, mas associações de dissidentes garantem que nos porões dos presídios muito mais gente sofre e pode até morrer sem que um jornal, tv ou emissora veicule qualquer notícia. Viva Zapata!!!!!!!

segunda-feira, 1 de março de 2010

CORDEL NA TIRA

Semana passada a mídia veiculou, com certo estardalhaço, o fim do Cordel do Fogo Encantado, a banda de Arcoverde que tanto encantou turistas adeptos das diabrites de Lirinha no palco. Cá com meus botões, penso que o Cordel tinha lá suas aptidões - mas nunca entendí porque o Cordel era tão bom de palco e não muito bom no estúdio. A fórmula sem rótulos - com muita percussão, pontos de umbanda e referências aos mestres da poesia matuta - agregou muitos admiradores. Mas sempre achei que faltava algo de novo, algo que incomodasse, algo que saísse do prolixo do líder Lirinha. Certa vez, numa entrevista em uma revista do Sudeste, Lirinha disse(em outras palavras)não entender porque o universo de canções de Luiz Gonzaga insistia tanto num cenário caótico e pobre do Sertão. Eu não lí toda entrevista, só que a crítica caiu de pau em Lirinha. Seria sensato Lirinha sacar que nos anos 40 e 50, o Nordeste só tinha mesmo pau de arara, carro-de-boi e muita seca. Então Gonzagão, mesmo atrelhado aos coronéis da antiga Arena, tinha mais é que falar no que estava vendo. Já tinha visto o Cordel, aqui em Arcoverde, antes do grupo estourar. Depois ví, no Recbeat do Recife Antigo durante o carnaval, não me lembro que ano - sei que faz tempo. Um senhor de Brasília, ao meu lado perguntou: "quem são esses caras?". Eu, todo orgulhoso, respondí: "Eles são lá da minha terra - Arcoverde". Realmente, naquela noite, Lirinha e Clayton estavam por demais inspirados. Começou, talvez alí, a lenda do "chover, chover" - anos depois toda vez que Lirinha dizia o refão, aqui acolá, caia um pé d'água. Depois ví o Cordel em muitas festas juninas em Arcoverde, com dezenas de caravana de fãs enloquecidos cantando de "có e salteado" as músicas do grupo. Mas teve mais de um São João que eu pude ver turistas indo embora da Praça da Bandeira porque queriam ouvir forró na noite de São João e os caras estavam cantando um batuque hermético que não se sabe dizer se era rock de garagem ou toques de afoxé. Talvez a ousadia sonora do Cordel não chegou tanto quanto ao patamar de um Chico Science. Talvez muita gente, como eu, não entendeu direito a mensagem profética de Lirinha. Enfim, o blogdomuriê está aberto para quem quiser explicar o quase inexplicável - o som de um candieiro que apagou, por falta de querosene ou de um bom senso sonoro(como se esse ítem fosse possível).