segunda-feira, 1 de março de 2010

CORDEL NA TIRA

Semana passada a mídia veiculou, com certo estardalhaço, o fim do Cordel do Fogo Encantado, a banda de Arcoverde que tanto encantou turistas adeptos das diabrites de Lirinha no palco. Cá com meus botões, penso que o Cordel tinha lá suas aptidões - mas nunca entendí porque o Cordel era tão bom de palco e não muito bom no estúdio. A fórmula sem rótulos - com muita percussão, pontos de umbanda e referências aos mestres da poesia matuta - agregou muitos admiradores. Mas sempre achei que faltava algo de novo, algo que incomodasse, algo que saísse do prolixo do líder Lirinha. Certa vez, numa entrevista em uma revista do Sudeste, Lirinha disse(em outras palavras)não entender porque o universo de canções de Luiz Gonzaga insistia tanto num cenário caótico e pobre do Sertão. Eu não lí toda entrevista, só que a crítica caiu de pau em Lirinha. Seria sensato Lirinha sacar que nos anos 40 e 50, o Nordeste só tinha mesmo pau de arara, carro-de-boi e muita seca. Então Gonzagão, mesmo atrelhado aos coronéis da antiga Arena, tinha mais é que falar no que estava vendo. Já tinha visto o Cordel, aqui em Arcoverde, antes do grupo estourar. Depois ví, no Recbeat do Recife Antigo durante o carnaval, não me lembro que ano - sei que faz tempo. Um senhor de Brasília, ao meu lado perguntou: "quem são esses caras?". Eu, todo orgulhoso, respondí: "Eles são lá da minha terra - Arcoverde". Realmente, naquela noite, Lirinha e Clayton estavam por demais inspirados. Começou, talvez alí, a lenda do "chover, chover" - anos depois toda vez que Lirinha dizia o refão, aqui acolá, caia um pé d'água. Depois ví o Cordel em muitas festas juninas em Arcoverde, com dezenas de caravana de fãs enloquecidos cantando de "có e salteado" as músicas do grupo. Mas teve mais de um São João que eu pude ver turistas indo embora da Praça da Bandeira porque queriam ouvir forró na noite de São João e os caras estavam cantando um batuque hermético que não se sabe dizer se era rock de garagem ou toques de afoxé. Talvez a ousadia sonora do Cordel não chegou tanto quanto ao patamar de um Chico Science. Talvez muita gente, como eu, não entendeu direito a mensagem profética de Lirinha. Enfim, o blogdomuriê está aberto para quem quiser explicar o quase inexplicável - o som de um candieiro que apagou, por falta de querosene ou de um bom senso sonoro(como se esse ítem fosse possível).

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