sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

AO SOM DOS CLARINS DE MOMO

Com toda a certeza o Carnaval, mesmo com todas as mudanças sofridas na trajetória do tempo, é a festa que mais gosto. Sempre admirei a libertinagem gostosa dos dias de Momo. Beber, nem tanto como antes. Mas só acordar com ressaca para tomar "gagau" e depois cair na folia é uma coisa impagável. Me lembro de velhos carnavais em Arcoverde: cenas como o banho na rua São Vicente(de Oliveira do Som - perto da Duarte Pacheco), blocos como o Lambaia(onde só desfilavam os "riquinhos de papai"), o Jurema(menos elitizado com figuras como Drayton Moraes e Kelson), o Depra(parece que era um diminutivo de depravados no bom sentido - esse recheado de estudantes de medicina e profissionais liberais). A turma do Depra sempre passava lá em casa para forrar o estômago, quando a maioria deles já estava completamente embriagada. Acho que eu nunca me senti inserido naqueles carnavais. Já naquela época, achava uma coisa meio retrô, algo como se as pessoas quisessem fazer algo diferente, mas que na verdade não estavam nem ao menos copiando nada. Só depois que fui para o Recife, comecei a ler sobre o frevo, e gostar daquele ritmo envolvente. O Galo da Madrugada já era grande, mas não metia medo. Eu escolhia um barzinho na rua da Concórdia, por volta das 10 da manhã, e ficava bebericando uma cerva estupidamente gelada. Depois ia com a turma curtir as ladeiras de Olinda. Voltava na madrugada do domingo já pensado na Timbu Coroado da Rosa e Silva. Depois de tomar um break-fast reforçado por Tia Júlia(que Deus a tenha, uma figura maravilhosa) partia para as bandas dos Aflitos. A diferença do Timbu Coroado é que lá a gente só se preocupa em beber e olhar as "alvirubras(diferentemente das "rubronegras") - todas lindas e educadas. Lembro de um carnaval, em Olinda, que encontrei um bar legal(na rua do Carmo, perto dos Correios). Um dos sócios era João Jardim(irmão do jornalista Flávio Jardim). O lugar parecia uma ilha de rock do bom em plena época de frevo. Depois que tomei dezenas de vodka, resolví beber San Raphael com limão. Então ví uma japonesa linda, acho que ela era nissei e fiquei louco. Pena, ou melhor(não sei), a investida não deu em nada - acho que foi porque eu estava muito alto. Aí, João chegou e disse que eu podia subir para o menzanino e tirar um cochilo. Depois de curtir de leve(já cochilando) o som de Miles Dave, BB King, Rolling Stones e bandas de garagem de Olinda, peguei no sono. Quando acordei a barra estava clareando. Agradeci a João e fui pegar um bus próximo ao Varadouro. Uma vez brincamos no Timbu com Toinho de Banana Crua(pai de Wagner Gomes da Rádio Jornal), Mário Henrique, Manoel Veríssimo e muitos outros arcoverdenses. Chovia muito, e nós meio que embriagados, esbaldávamos em frevos históricos de Capiba. Posso passar em branco várias festas tradicionais do ano, mas o Carnaval não consigo passar imune porque me bate um misto de saudade e vontade de voltar a brincar. Esse ano, de novo trabalhando, não estarei brincando como queria(sem hora para parar ou para voltar). Mas um dia volto a brincar um Carnaval inteiro - de uma prévia de sexta até um bacalhau qualquer zanzando na quarta-feira de cinzas desvairada. Afinal, meu coração de folião merece!!!!!!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

SAUDADE - TORRENTE DE PAIXÃO, EMOÇÃO DIFERENTE

Recentemente, recebí a visita do primo José Élio - um economista porreta que mora em Salvador. Foi um papo rápido sobre a Boa Terra, relembranças de parte dos anos 70 que passamos zanzando pelo Pelourinho, Farol da Barra, Itapoã e Arambepe(território dos hippies visitado por Janis Joplin). Saudades do chopp bem tirado, sentindo o mar aos meus pés. Saudade da mulher baiana(o que será que a baiana tem? - perguntava Dorival Caymmi). Eu era mas ligado ao irmão dele - Ridevaldo, mais conhecido por Ridha - um poeta meio louco à la Jack Kerouack. Ele morreu no ano passado e infelizmente fiquei com aquele gosto que poderia ter sido mais presente na vida daquela figura. Mas me mudei para a Recife Desvairada e nada nunca mais foi igual. Ridha admirava os novos baianos(Caetano Veloso, Gil, Tomzé, Moraes Moreira, Galvão, Pepeu Gomes e maluca da Baby Consuelo), mas também não rezava de pé junto na cartilha do Tropicalismo porque ele achava que aquela pose de intelectual de Caetano era puro marketing. Quando Ridha se abusava da rima pobre do Tropicalismo, mandava eu ler Fernando Pessoa, Drummond, Neruda, Mário Quintana, Nelson Rodrigues, Oduvaldo Viana, Clarice Lispector e Torquato Neto, entre outros. Certa vez Ridha disse que era melhor os caras do Tropicalismo botar uma melancia na cabeça para aparecerem de forma mais plausível e real. Eu morria de rir e dizia que Caetano não precisava de mais nada para se parecer com Carmem Miranda e seus balagandãs. Sempre achei(e acho) Caetano uma das cabeças pensantes mais abertas do Brasil. Fico pensando o que Ridha acharia daquela frase que Caetano disse sobre o presidente Lula. Acho que o dito analfabetismo de Lula não é vergonhoso, porque não é um analfabetismo carente de letras, acentos ou vírgulas. O analfabetismo do nosso "sindicalista-mor" foge à nossa compreensão. Penso que foi isso que Caetano quis dizer. Não foi nada pessoal. Foi mais uma coisa contra essa pretensa vontade de Lula querer ser um estadista acima de Juscelino Kubistchek. Foi um alerta para mostrar que ninguém, nem mesmo quem saiu de pau de arara de Caetés para anos depois ser presidente de "uma potência antes de tudo sempre emergente", está acima do que chamamos de bom senso. Logo que lí a entrevista de Caetano na Folha de São Paulo me lembrei de Ridha. Percebí, alí,o quanto Ridha foi importante no meu arcabouço intelectual, na inserção cultural de várias épocas distintas, na comprensão da arte pela arte, na negação do pedantismo dos que querem ser "sabichões" e sabem tão pouco da vida como ela é. Ridha foi embora, mas toda vez que escrevo um texto, sobre qualquer bobagem que seja, vejo ele rindo e zombando dos arautos de plantão. Se Ridha sempre aparece em meus textos é porque ele está vivo em mim e nas nuances obscuras da vida que a gente teima em querer explicar. Este é réquiem atrasado, mas eu tinha que fazê-lo. Por Ridha e por todos que ainda acreditam num melhor e sem tantos babacas que vegetam "como insetos em volta da lâmpada".

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A TRAGÉDIA DELES E A NOSSA

No rastro do impacto da mega-tragédia do Haiti, a mídia continua bombardeando os expectadores e internautas com centenas de matérias sobre o terremoto naquele país caribenho. Realmente, é de cortar o coração tanta tristeza e tantas mortes. Mas se tem a leve impressão de se querer passar, nas grades do vídeo, a mensagem de que "somos menos lascados que os haitianos". Parecem querer dizer: "olha, eles vivem rodeados de porcos e ratos", "eles sequer têm governo", "eles são muito pobrezinhos", "eles até praticam vodu". Talvez o Haiti não seja mesmo aqui(parodiando Caetano Veloso), mas o Brasil tem tantas mazelas quanto o povo haitiano.
Dizem, por aí, que somos uma potência emergente. Mas continuamos tendo "bolsões" de pobreza nas maiores cidades, a corrupção campeia solta no meio político, aqui também se vive ao lado de ratos e porcos basta passear perto do Palácio do Planalto para ver como vivem os favelados de lá. Bom, pelo menos temos um governo. Sim, temos um governo com feições sindicalista e assistencialista. Sim, temos um governo que pouco liga para a devastação da Amazônia. Sim temos um governo que parece governar mais para os holofotes do que para o povo. Sim temos um governo que está contando com o "ovo da galinha" antes dela pôr - vejam o caso do pré-sal. Especialistas dizem que vai durar anos e anos para que se possa pensar em algum lucro com esse bendito pré-sal. Sim, temos um governo que não consegue minimizar a violência tanto nas grandes cidades quanto nos municípios de médio porte. Sim, temos um governo que não sabe cuidar de sua juventude que já está nas garras do crack e que parece não ter chance de nehhuma volta. Posso até ter esquecido algum mazela. Mas vou ficar por aqui. Até por que o Brasil vive um momento em que falar mal do governo é ir contra-a-corrente. Porque no Brasil é assim: temos de rezar o Pai Nosso como manda o figurino, senão somos tachados de pessimistas. Mas o que eu não quero é ser adepto do óbvio ululante(qualquer trocadilho não é mera coincidência). Já dizia Belchior, "ao vivo é muito pior". Tenho pena dos haitianos, mas tenho muito mais pena dos brasileiros que ganham a "bagatela" de cerca de 500 reais como salário mínimo. Desses, sim, eu tenho mais pena......

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

ATENÇÃO CANGACEIRÓLOGOS!!

Enquanto as chuvas de janeiro fazem a alegria de uns e a desgraça de outros, vamos levando esses dias nas costas. Quando o carnaval passar e mais um pouquinho, Arcoverde começa a viver o clima junino. A festa, que há mais de cinco anos, ganhou status na mídia nacional, é esperada pelos moradores e centenas de turistas que aqui vêm brincar um São João diferente. Todo ano o São João daqui tem um tema. Aquele que homenageava Lampião, ou melhor a influência do personagem na estética e nas artes(e não o banditismo propriamente dito), causou polêmica nos jornais locais. Tanto que o secretário de Turismo de Arcoverde, Albérico Pacheco teve de explicar aos desavisados e de visão estreita, de que não se tratava de alardear a história de vingança de Virgulino Ferreira.
Agora, em 2010, o tema será voltado para todas as tradições e folguedos do Nordeste. Teremos alusões a Antônio Conselheiro, a Padre Cícero, a cavalhada do Interior da Bahia, ao pau de sebo, ao boi bumbá e por aí vai. Certamente a concepção artística de adereços, a cargo de Suedson Neiva, vai contemplar todos esses elementos e mais alguma surpresa de última hora. O tema, mais abrangente, talvez explique a crescente inserção gratuita que o São João de Arcoverde vem tendo na mídia eletrônica(vide TV e Internet). No ano passado, por exemplo, no dia da apresentação de Elba Ramalho(sábado), a Rede Globo exibiu um programa(cobrindo as praças do Nordeste) apresentando imagens das festas em Campina Grande, Caruaru e outras cidades. Ficou claro, pelo menos nos bastidores, que as imagens de Campina Grande e Caruaru estavam tendo pouco impacto nos espectadores. Então, o show de Elba, tendo ao fundo uma linda bandeira de Pernambuco formada por "leads", em Arcoverde, ganhou mais espaço e mais tempo na grade televisiva - com muito mais gente vendo o nosso São João.
O São João de Arcoverde, acredito, não precisa crescer e ficar "inchado" como o de Caruaru. Temos, sim, de aperfeiçoar a fórmula que vem dando certo. Por outro lado, tem se organizar o setor de gastronomia - já que alguns restaurantes simplesmente fecham as portas bem antes da madrugada chegar nos dias de shows importantes, deixando os turistas "de barriga vazia". A rede hoteleira, também, não deve inflacionar suas tarifas, até por que por aqui não temos nenhum hotel três estrelas. São pequenas coisas que precisam de ajustes. Certamente, a boa vontade de todos arcoverdenses vai fazer a diferença no São João 2010. Falta muito, mas já estamos esperando por você para mais um São João de alegria, descontração e, o mais importante, de muita tranquilidade.

sábado, 2 de janeiro de 2010

DELÍCIAS DO FINZINHO DO ANO

Passada a farra de 2010, nós comensais, temos de repor as forças para "esperar o Carnaval chegar", com diz Chico Buarque. Viramos o ano, eu e a minha cheff de gastrô Luciana, saboreando, em casa, um salpicão, aliado a um lombo honesto - regado a um vinho tinto seco nacional de menos de dez reais. Em seguida, fomos dar a "benção" a papai Zé Moraes e mãe Anajás(o casal mais unido que já ví). Depois passamos em algumas casas, onde fomos, é claro, muito bem recebidos(afinal, amigos sabemos fazer). Por lá saboreamos ainda strogonoff, carne de sol, picanha, peixe grelhado e calabreza de qualidade. A maior parte desse menu, degustamos na casa do primo Welton Ferreira e sua esposa Ivonete que sempre nos recebem nos finais de ano com um Passport levíssimo. Há dois anos, apesar de primos, estreitamos os laços de amizade. Demos uma passada por lá. Welton sempre tem uma história a contar. Ele é rubronegro, mas, incrivelmente não é chato. É ainda inteligente, sem ser pedante, e tem muito bom humor. Tive que sair antes das 3 da madruga, pois ia pegar no batente(em pleno "dia nacional da preguiça"). Depois de ouvimos muita MPB de qualidade, Welton colocou DVDs de monstros sagrados do brega pernambucano e demos boas risadas vendo produções rídiculas, com dançarinas previsíveis e péssimos cantores. Falamos sobre o brega e sua utilidade de desopilar o fígado e os pulmões. Esse brega pernambucano(dos cantores da zona norte do Recife) dá de dez a zero nessas duplas(ditas sertanejas que só fazem gritar). Welton morreu de rir quando eu disse que o remédio para as duplas sertanejas é uma espingarda de dois canos - com um tiro só a gente manda eles cantarem em outra freguesia. Essa excelente tirada não é minha, é na verdade de Lulu Santos. Quero daqui agradecer a Welton pela excelente prosa da noite final de 2009. Não precisava mais de que isso depois de ano tão atribulado. Valeu Welton, para o ano tem mais. Ah, sim - para o ano você será meu convidado. Vai ter de ir, queira ou não.....