quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

SAUDADE - TORRENTE DE PAIXÃO, EMOÇÃO DIFERENTE

Recentemente, recebí a visita do primo José Élio - um economista porreta que mora em Salvador. Foi um papo rápido sobre a Boa Terra, relembranças de parte dos anos 70 que passamos zanzando pelo Pelourinho, Farol da Barra, Itapoã e Arambepe(território dos hippies visitado por Janis Joplin). Saudades do chopp bem tirado, sentindo o mar aos meus pés. Saudade da mulher baiana(o que será que a baiana tem? - perguntava Dorival Caymmi). Eu era mas ligado ao irmão dele - Ridevaldo, mais conhecido por Ridha - um poeta meio louco à la Jack Kerouack. Ele morreu no ano passado e infelizmente fiquei com aquele gosto que poderia ter sido mais presente na vida daquela figura. Mas me mudei para a Recife Desvairada e nada nunca mais foi igual. Ridha admirava os novos baianos(Caetano Veloso, Gil, Tomzé, Moraes Moreira, Galvão, Pepeu Gomes e maluca da Baby Consuelo), mas também não rezava de pé junto na cartilha do Tropicalismo porque ele achava que aquela pose de intelectual de Caetano era puro marketing. Quando Ridha se abusava da rima pobre do Tropicalismo, mandava eu ler Fernando Pessoa, Drummond, Neruda, Mário Quintana, Nelson Rodrigues, Oduvaldo Viana, Clarice Lispector e Torquato Neto, entre outros. Certa vez Ridha disse que era melhor os caras do Tropicalismo botar uma melancia na cabeça para aparecerem de forma mais plausível e real. Eu morria de rir e dizia que Caetano não precisava de mais nada para se parecer com Carmem Miranda e seus balagandãs. Sempre achei(e acho) Caetano uma das cabeças pensantes mais abertas do Brasil. Fico pensando o que Ridha acharia daquela frase que Caetano disse sobre o presidente Lula. Acho que o dito analfabetismo de Lula não é vergonhoso, porque não é um analfabetismo carente de letras, acentos ou vírgulas. O analfabetismo do nosso "sindicalista-mor" foge à nossa compreensão. Penso que foi isso que Caetano quis dizer. Não foi nada pessoal. Foi mais uma coisa contra essa pretensa vontade de Lula querer ser um estadista acima de Juscelino Kubistchek. Foi um alerta para mostrar que ninguém, nem mesmo quem saiu de pau de arara de Caetés para anos depois ser presidente de "uma potência antes de tudo sempre emergente", está acima do que chamamos de bom senso. Logo que lí a entrevista de Caetano na Folha de São Paulo me lembrei de Ridha. Percebí, alí,o quanto Ridha foi importante no meu arcabouço intelectual, na inserção cultural de várias épocas distintas, na comprensão da arte pela arte, na negação do pedantismo dos que querem ser "sabichões" e sabem tão pouco da vida como ela é. Ridha foi embora, mas toda vez que escrevo um texto, sobre qualquer bobagem que seja, vejo ele rindo e zombando dos arautos de plantão. Se Ridha sempre aparece em meus textos é porque ele está vivo em mim e nas nuances obscuras da vida que a gente teima em querer explicar. Este é réquiem atrasado, mas eu tinha que fazê-lo. Por Ridha e por todos que ainda acreditam num melhor e sem tantos babacas que vegetam "como insetos em volta da lâmpada".

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