segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Ao Mestre Mário Henrique I

Meses depois da morte de Mário Henrique, me atrevo a postar aqui algumas palavras. Conhecí Mário mais de perto mesmo antes de ir para o Recife(no final da década de 70). Mas lembro que, em anos anteriores, pude conviver um pouco com Mário, pois meu pai - José Moraes(assim como ele) era funcionário do DNOCS. Os anos se passaram e fui ficando mais íntimo da alegria, da bondade, do viço político e artístico de Mário. Ele se admirava comigo quando contava casos de Lupiscínio Rodrigues, Altemar Dutra, Nelson Rodrigues, Anísio Silva e tantos outros "bambas" da MPB. Quando, por vezes, estávamos passeando na "Kombi", ele colocava pérolas do cancioneiro e ficávamos falando sobre música e arte. Nossos gostos musicais, apesar da diferença de idade, sempre nos levava a um papo sadio e agradável.
Aprendí muita coisa com Mário. Soube entender como ele sempre foi um incompreendido pelos moralistas e fariseus de plantão. Ele carregava essa angústia. Não entendia, por exemplo, como o atual alcaíde-mor da cidade não mandava os secretários trabalharem com afinco; apontando sempre as dezenas de entulhos espalhados pelas ruas.
Mário era revoltado com pessoas que eram nomeadas para órgãos públicos e que só por isso usavam a premissa para tratar o contribuinte com desdém e arrogância. Lembrava sempre, inclusive, o exemplo do escritor Graciliano Ramos quando foi prefeito de Palmeira dos Índios. O autor de Memórias do Cárcere mantinha sempre atualizados cadernos com toda a contabilidade da prefeitura para quem quisesse ver. Hoje, em plena era da internet, tem administrador por essas bandas do sertão tupiniquim que leva tudo na gaiatice, não dando a mínima para dita transparência.

Certa vez fomos(eu e Toinho de Banana Crua) com Mário conhecer Casinhas, cidade vizinha à Surubim, local que o viu nascer. Mário era filho do ex-prefeito de Surubim - Mário Henrique de Farias. Por onde passamos, fomos recebidos com carinho e atenção. Na ocasião, Mário ofertou um troféu para o campeão de um torneio que estava acontecendo no campo de Casinhas.
Em outra viagem, desta vez para o Recife, fomos conferir, num domingo inesquecível de Carnaval, o Timbu Coroado, na Rosa e Silva. Com a família alvi-rubra, tivemos grandes alegrias naquele dia de muita chuva, suor e lágrimas ao cantar-mos "da união de duas cores mágicas nasceu a força e a raça - vermelho de luta, branco de paz, quem olha não esquece jamais".

Estive a última vez com Mário, no final de setembro, na budega de Audálio(no São Geraldo), com os também amigos Jairo Professor e Lourival Costa. Mário, já sem beber há vários anos, estava bem animado discutindo política e jogando conversa fora para matar o tempo. Foi inclusive até o buffet e pegou uma "boa média". Se tívessemos bola de cristal, poderíamos ter agradecido a oportunidade ímpar de ter convivido com Mário.

De minha parte, teria aplaudido o homem que sempre usou a coerência e a bondade, em detrimento da arrogância e dos "chicotes" dos poderosos. Um homem que não se curvou ante aos orangotangos da Ditadura. Um homem que soube criar seus filhos com dignidade. Um homem que não via maldade em ninguém. Um homem com defeitos e virtudes, mas um homem que soube honrar com altivez sua passagem pela Terra. Vai Mário ser "guache" na vida. Vai Mário, deixa os imbecis e caretas circulando em volta da lâmpada. Afinal, eles vieram ao mundo apenas para ser massa de manobra neste "admirável mundo novo". Obrigado por tudo. Lembro sempre de você quando vejo uma Kombi branca e quando escuto Três Apitos, de Lupicínio Rodrigues.

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